1º Semestre

E aqui estava eu na universidade... Primeiro dia de aula. Eu estava tão ansiosa que mal pude dormir, mas nem por isso eu estava sonolenta naquela manhã. O dia estava nublado e a brisa era gelada, o que em um dia normal me faria querer ficar em casa, embaixo do edredom. Caminhei pela vasta área à procura da minha sala e finalmente a encontrei depois de perguntar a um daqueles garotos que parecem adorar debochar dos calouros. Todo o meu corpo estava em alerta quando eu adentrei a sala de aula. Suspirei e pensei comigo mesma: "O que há com você, Nina Chevallier? Relaxe." Tudo aquilo não deixava de ser uma nova experiência, mas não explicava todo aquele nervosismo. Segui para o fundo da sala e ao decorrer do trajeto não cumprimentei ninguém; eles pareciam ocupados demais em parecerem metidas, prepotentes, e não com certeza não notariam a minha presença. Era melhor assim. Aquelas pessoas não me passaram uma boa impressão, então resolvi ser antipática ao meu modo. Sentei-me em uma das últimas cadeiras e fiquei absorta até a chegada da professora. Observei enquanto ela colocava as coisas sobre a mesa, e com a expressão paciente apoiou-se sobre a mesma.

- Bom dia, alunos.

Sua voz ecoou pela sala e saiu tão firme que até eu, que estava concentrada em seus movimentos, não deixei de me assustar. Após isso todos os burburinhos se desfizeram e os alunos voltaram às suas carteiras em silêncio. A professora virou-se habilidosamente em direção à lousa e escreveu seu nome, a disciplina que lecionava e no que era formada. Ela havia dito apenas três palavras, mas foi o suficiente para perceber que ela não estava ali para brincar.

- Gostaria de deixar bem claro que estou lidando com futuros médicos, e não com crianças. Portanto, não aceito esse tipo de comportamento em minhas aulas. Caso não concordem com meus termos, sintam-se à vontade para se retirarem. Obrigada.

Eu até teria sorrido se eu sentisse que até esse simples ato pudesse ter chamado a sua atenção. Concertei-me em minha cadeira enquanto ela começava a dar o conceito e os objetivos da Anatomia. Realmente não ia ser uma disciplina fácil por ter que nos fazer lembrar cada osso, de cada músculo do corpo. Suspirei e tentei prender toda a atenção na professora mal-humorada.
Após algum tempo de aula percebi que falar sobre o assunto deixava a "pró" mais... feliz. E isto era bom. Diante todos aqueles nomes complicados e as infinidades de funções dos ossos, as dúvidas eram inevitáveis e enfim muita gente sentiu-se mais à vontade para questionar. E no fim todos tiveram suas perguntas respondidas, mesmo com um pouco de esforço por parte da professora, que, por vezes cansada de explicar a mesma coisa o tempo todo, apelava para a simulação e gesticulava, mostrando como determinado músculo flexiona e que aquele movimento seria impossível sem o apoio dos ossos.
E a hora mais esperada havia chegado; a aula prática. Todos nós vestimos jalecos e fomos para o laboratório de Anatomia analisar cada tipo de osso e dar nome às partes dos mesmos. Foi uma experiência meio estranha, manusear aquele fêmur que já foi de alguém um dia. Após identificar cada osso que a professora havia me dado, saí explorando a sala. Havia vários vidros com órgãos humanos mergulhados em formol espalhados pelas estantes.

- Bom, pessoal. Por hoje é só. Espero ter esclarecido as dúvidas de todos, mas quem ainda tiver alguma podem vir até aqui.

Não havia sido tão ruim assim. As horas passaram tão rápido que eu mal percebi. A disciplina havia me conquistado e eu vibrei por ter assimilado todo o conteúdo, que era inédito pra mim. Guardei o meu jaleco, peguei as minhas coisas e saí do laboratório para visitar o restante da universidade.